O tempo pensa que eu sou bobo,
ele está muito enganado!
Fico espiando num canto,
o bicho passar apressado!
Dou risadas desse berolo,
que vive me procurando...
Imagina se me encontra, no meio
do mato pescando!
Duvido!
Mineiro é come quieto...
Quando ele vai pegar, saio fora!
O tempo passa reto!
Às vezes, faz uma gracinha!
Pinta em meu rosto uma ruguinha...
Só quando estou desprevenido!
Ah! Tempo besta sô...
Pensa que é meu amigo!
Outro dia, que coisa boba!
Pintou meus cabelos de brancos...
Num repente, coisa que eu nem esperava,
num solavanco!
Mineiro? Quem disse que é bobo?
Quisera Deus que fosse!
Nem seria tão bom meu pão de queijo,
comidas e doces...
Voltando a falar do tempo...
Acho que ele ainda não percebeu!
Não quero graça com ele
e de mim já se perdeu!
Bem-feito!
Moro aqui no meio do mato,
sem botina, sem sapato!
Ando só de pé no chão.
Quero ver se ele me encontra!
No meio da escuridão...
Se vier? Vai perder o prumo!
Vai chegar e ficar sem rumo...
Tô nem aí, atrás do bacuri eu enrolo
o fumo!
Às vezes, cochilo, é fato,
na rede que me balança...
Nessas horas ele aproveita e
faz sua festança!
Deixou-me com as pernas mais vencidas...
Com as mãos mais tremidas!
Pensa que eu tenho medo...
Não sabe que namoro a vida e só dela
tenho apego!
Besta, besta!
Mineiro trabalha no quieto!
Toco viola, engano ele...
O tal de tempo passa reto!
Acho que deve estar "veinho"...
Quantas vezes não me vê sentado,
na sombra de qualquer manacá,
daqueles bem perfumados?
Tudo bem que sempre eu cochilo...
Não sou de ferro!
É quando ele vem com sem "gracisse"...
Vai tirando alguns fios de cabelo,
aumentando a minha calvície!
Nem ligo!
Ele pensa que eu não sei...
Outro dia... Para colocar a linha no anzol?
Não enxerguei!
É coisa dele
brincadeira sem graça!
Acho que está caduco...
Fico aqui e ele passa!
O tempo não sabe que mineiro
não tem pressa...
Um dia sei que ele cansa ou me alcança?
Duvido...
Pensa que é manhoso,
acha que é da família!
Vive me rodeando, se fazendo
de amigo!
Outro dia exagerou!
Aprontou a maior confusão...
Confesso que até me assustou,
mexendo no meu coração!
Deixou fraquinho, fraquinho...
Com uma tal de canseira!
O besta ainda não sabe que
mineiro tem dessas besteiras?
Canseira, canseira e canseira...
Zoeira no ouvido!
Passa o filme da minha vida,
aqui neste mato escondido...
Canseira, canseira e canseira...
Mamãe, papai por aqui?
Uai! Acho que o tempo me pegou
ou será que eu morri?
Papai foi há tempos, mamãe também...
Não vejo os montes da Mantiqueira!
É só uma planície gigante,
verdinha e sem ribanceira...
Canseira, canseira, canseira...
Tanta gente de branco!
Bicho brincando com gente...
Leão, tigre e serpente?
Tô no paraíso?
Morri e não sei?
Mineiro não morre...
Dorme na velha tapera!
Canseira!
Brincadeira besta!
Desta vez exagerou...
Ah! Tempo! Foi só deitar em minha rede
e acho que você me pegou!
José Geraldo Martinez
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